sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Turista Espacial


Nome original: La Belle Verte (França)
Direção: Coline Serreau
Elenco: Catherine Samie, Claire Keim, Coline Serreau, Denis Podalydès, Didier Flamand 
Gênero: Ficção 
Ano: 1996



     Filme francês propõe uma experiência antropológica através da desconstrução da nossa sociedade pela visão estrangeira de extraterrestres. Contudo, de uma maneira bastante informal e interessante.
     Mila (interpretada por Coline Serreau, também a diretora), extraterrestre provinda de um planeta onde o ser humano vive em total harmonia e sustenta um estilo de vida bastante diferente do nosso, viaja à Terra com o intuito de encontrar a família de sua mãe, começando uma jornada pelo planeta que ninguém queria visitar devido à sua situaçào primitiva e tão inferior àquela que ela e seu povo estão acostumados.
     O filme consegue perfeitamente cumprir seu papel de motivar uma reflexão no espectador por colocá-lo em uma perspectiva de observador de si mesmo e de sua sociedade como um todo. Sob a ótica de Mila e seu povo, discussões sobre espiritualidade, alimentação, economia, natureza e vários outros aspectos de nossa humanidade são, por causa da distinção com aquele outro planeta, levantadas e acabam trazendo uma sensação de deslumbramento. Todos as viscitudes dos seres humanos, óbvios como a geração de poluição, o descaso com o meio-ambiente e o sistema econômico cruel, ou sutis (será?) como a alimentação, as frustradas relações interpessoais e individualidade egoísta, são expostos no filme. Um batom, por exemplo, é o causador de um diáologo intrigante sobre o padrão de beleza e nossas expectativas com o mesmo.

     É visível o ativismo e as influências de certas correntes de pensamento no longa e na montagem do planeta-modelo, tão à frente do nosso. Para um espírita, é fácil ver as semelhanças entre a relação da Terra com o planeta do filme e da Terra como os planos espirituais superiores, que os crentes da doutrina espírita acreditam. Jesus Cristo, em ambas as situações é mostrado como um ser enviado ao nosso planeta para nos fazer avançar na linha evolutiva mais rapidamente. O vegetarianismo também está presente, defendido com a repulsa e surpresa quando há a descoberta que aqui em nosso planeta ainda comemos carne.
     Vários outros elementos fazem do filme uma obra inesquecível, que parece ter sido fonte de inspiração para filmes como Avatar e até mesmo do humor presente na série O Guia do Mochileiro das Galáxias (se este não tivesse surgido anteriormente àquele, claro). Cenas engraçadas e criativas surgem aos montes, como o balé dos jogadores de futebol e os diálogos nervosos quando a personagem tenta entender nosso estranho mundo.
     Turista Espacial é um filme instigante, propiciador de uma experiência incrível de descontrução e viagem a nós mesmos. Deve ser visto.
     
Conceito: Excelente

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Amores Brutos



Nome original: Amores Perros (Espanha)
Direção: Alejandro González Iñárritu
Elenco: Gael García Bernal, Gustavo Sanchez Parra, Dagoberto Gama
Gênero: Drama
Ano: 2000 



      Filme de Alejandro Iñárritu é tão bom quanto Babel, e foi feito na mesma forma.
      Uma série de histórias conectadas sobre pessoas e o amor em meio à violência e dor, este último algo inevitável, pelo que parece. Um mendigo e seus cachorros, um jovem e a esposa de seu irmão bandido, um homem que larga a mulher e pra viver com a amante. Esses são os personagens que protagonizam as três partes do filme, cada qual com seus respectivos nomes como título. Gael García Bernal interpreta o jovem que começa a ganhar dinheiro com seu cachorro em rinhas para fugir com a cunhada.
      Diferentemente de Babel, não há um acontecimento específico da qual as histórias dos personagens partem. Eles são apresentados separadamente para depois entrarmos em suas vidas e vermos em quais pontos os outros aparecem ou interferem de modo sutil, como um encontro na rua, ou de modo intenso, como em uma batida de carro. Outra diferença entre as duas obras do diretor é o fato de que Amores Brutos não segue a ordem cronológica em vários momentos, trazendo uma ordenação mais complexa e muito mais interessante e dinâmica ao longametragem. Em compensação, as trilhas-sonoras dos dois filmes são bastante semelhantes e deve-se dizer que foi um bom aproveitamento.
      Fazer um filme múltiplo assim é vantajoso, pois as tramas chatas podem ser compensadas pelas interessantes. Entretanto, o roteiro não cai em momento algum, pretendo a atenção e emocionando, graças aos segredos, à violência e tensão que permeiam as histórias de amor que mais trazem sofrimento do que felicidade. “Porque também somos o que perdemos”, a frase presente na dedicatória final, resume a ideia de Iñarritu.
      Amores Brutos é um grande acerto do diretor espanhol, sendo uma homenagem ao amor e todos os problemas e conflitos que todos nós conhecemos muito bem.

Conceito: Excelente

O Segredo de Vera Drake


Nome original: Vera Drake
Direção: Mike Leigh
Elenco: Imelda Staunton, Phil Davis, Eddie Marsan
Gênero: Drama
Ano: 2004


    
Filme de Mike Leigh conta a história verídica de Vera Drake, brilhantemente interpretada por Imelda Stauton.
     Londres, 1950. Numa Inglaterra pós-guerra, Vera Drake concilia sua vida simples dedicada à família com sua rotina secreta de ajudar jovens a cometerem aborto, até que uma delas é levada ao hospital por complicações, trazendo o segredo de Drake à tona para a justiça e conhecidos.
     Desde o início do filme a construção da personagem principal visa enfocar a simplicidade de sua vida e sua popularidade entre a vizinhança graças à sua solidariedade e simpatia. Dessa maneira, logo de início já começamos a buscar argumentos para entender e justificar as atitudes de Vera que a levariam aos tribunais em breve. Em cada caso onde o aborto é provocado, vemos diferentes tipos de mães, que buscaram ajuda de Drake por diversos motivos: excesso de filhos, estupro, traição ou só jovens descuidadas e reincidentes no aborto forçado. Com toda essa pluralidade de razões, é fácil notar porque o tema é tão polêmico, inclusive bastante recorrente hoje em discussões políticas e éticas. É possível ver Vera Drake como uma assassina qualquer mesmo sendo suas intenções de ajudar, gratuitamente, as aflitas jovens, tão visíveis? O roteiro e a maneira que foi elaborado trazem mais situações que favorecem a personagem, contrapondo-se somente às passagens nas quais ela demonstra uma demasiada ingenuidade e serenidade, que pode ser tomada como frieza e falta de escrúpulo.
     Imelda Stauton se mostra perfeita no papel, desde o início quando sua vida está tranquila e feliz, até a polícia aparecer na sua porta. Nos dois momentos, talvez graças ao estilo do diretor Mike Leigh e retratar fielmente o real e os dramas familiares, nos sentimos imersos na família Drake e todos os acontecimentos que a rodeiam, acabando por nos tornarmos tão íntimos que sentimos pesar por Vera. Os diálogos cotidianos e simples, e a história em ordem cronológica sem grandes pulos no tempo nos dá a sensação de estarmos quase vendo a história acontecer dentro de nossa casa.
     Indicado a 3 Oscar, Vera Drake é um bom filme para ilustrar o tema do aborto e para ver porque Stauton ganhou diversos prêmios de Melhor Atuação.


Conceito: Muito Bom

Simplesmente Feliz


Nome original: Happy-go-lucky
Direção: Mike Leigh
Elenco: Sally Hawkins, Andrea Riseborough, Eddie Marsan
Gênero: Comédia
Ano: 2008


     Mike Leigh dirige esse filme leve e agradabilíssimo de assistir, no estilo Amelie Poulain.
     Poppy é uma mulher de 30 anos otimista e feliz, que trabalha como professora primária e tenta levar sorriso a todos a sua volta. O filme não possui uma trama definida, sendo mais o retrato da vida cotidiana da personagem vivendo em um típico e minúsculo apartamento inglês com sua amiga. A felicidade e bom humor de Poppy transparecem em todos os momentos e é contagiante, principalmente nas cenas das aulas de direção com o ranzinza instrutor interpretado de uma maneira magnífica por Eddie Marsan (também presente em Vera Drake), que junto com Sally Hawkins fazem as melhores cenas do longa.
      Simplesmente Feliz é difícil de encaixar-se em algum gênero, mas talvez a comédia seja mais adequada, graças às cenas e aos diálogos hilários devidos ao contínuo bom humor e leveza de Poppy, que se não fosse pela capacidade da atriz de interpretar tão belamente essa personagem, não seria tão recomendável. Um filme pra acalmar a mente.



Conceito: Muito Bom
 
 

Primavera para Hitler


Nome original: The Producers
Direção: Mel Brooks
Elenco: Zero Mostel, Gene Wilder, Kenneth Mars
Gênero: Comédia
Ano: 1968


      Comédia dos anos 60 traz história interessante e, mesmo para um espectador descontextualizado com a época em que foi feito, consegue arrancar risadas.
      Um produtor fracassado da Broadway se junta com seu contador (interpretado por Gene Wilder, também conhecido como o Willy Wonka do primeiro A Fantástica Fábrica de Chocolate ) e, através de uma manobra de superfaturamento, planeja produzir a pior peça teatral de todos os tempos para usar o dinheiro e ir pro Rio de Janeiro. Contudo, o espetáculo musical sobre Hitler e a Alemanha nazista acaba sendo um sucesso.
      Tendo um humor diferente dos que nós, espectadores atuais, estamos acostumados, o filme acaba parecendo forçado e meio excêntrico pra nossa visão contemporânea de comédias. Mesmo assim, pela trama que por si só é engraçada, consegue manter a atenção pela expectativa de como será a peça que está sendo produzida e promete ser um fracasso, e também por personagens engraçados, como a secretária sueca e gostosa, e o ex-combatente alemão maluco e admirador de Hitler
. E é a própria peça que traz as cenas mais engraçadas do curto filme, cuja sinopse acima resume toda a história que vemos nos 84 minutos de duração (curta demais). A peça poderia ser, de fato, mais explorada. Ver um musical encenado na Broadway, com um trecho de música “Primavera para Hitler e Alemanha, inverno pra Polônia e França” como uma ode ao Führer, entretanto, faz o longa valer a pena mesmo ele não sendo imperdível.

Conceito: Regular

terça-feira, 11 de junho de 2013

Biutiful


Nome original: Biutiful
Direção: Alejandro González Iñárritu
Elenco: Javier Bardem, Maricel Álvarez, Hanaa Bouchaib
Gênero: Drama
Ano: 2010



     Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011, a obra de Alejandro González Iñarritú traz Javier Bardem interpretando um pai lutando para cuidar de seus 2 filhos enquanto espera a morte.
     Uxbau é um pai separado que usa seu dom de conversar com os mortos e participa de atividas ilíticas para ganhar a vida e cuidar de seu casal de filhos pequenos num subúrbio na Espanha. Após sentir dores e ir ao médico, descobre que tem poucos meses de vida graças a um câncer, começando sua luta para tentar deixar as coisas em ordem antes de partir.
     Biutiful é o mais fraco dos três filmes que já vi desse diretor mexicano. Contudo, não chega a ser ruim. Só não é tão memorável quanto 21 gramas e Babel. O longa é monótono em várias partes, exigindo muita sensibilidade para que o espectador chegue a ficar perturbado e comovido com a situação de Urbau. Imagino que isso tenha ocorrido devido à extrema introspecção do personagem, graças à atuação muito convincente de Bardem (o que deu um grande brilho ao longa), durante toda a história, vivendo a tristeza
de esperar seu fim em meio a todos os problemas em silêncio. Esse é um aspecto do filme que o torna original, mas também falho em criar algum vínculo emocional do espectador com o personagem principal. Obviamente há cenas chocantes e densas, como a chacina não-proposital dos chineses, mas são partes isoladas nessas mais de duas horas de filme, que trazem reflexões sutis demais sobre espiritualidade e morte.
     Como pode ser percebido na dedicatória antes dos créditos finais (de Iñárritu para seu pai), Biutiful é mais uma homenagem às amadas figuras paternas e seu amor por seus filhos do que um drama mais complexo como os outros do diretor.

Conceito: Bom

domingo, 9 de junho de 2013

Melancolia


Nome original: Melancholia
Direção: Lars Von Trier
Elenco: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg,  Kiefer Shuterland
Gênero: Drama
Ano: 2011


       Há filmes que são filmes. Histórias contadas usando sons e imagens. Contudo, há filmes que são poesias, poesias audiovisuais que, se lidas no momento certo e pelos olhos certos, proporcionam uma experiência quase epifânica. "Melancolia", uma obra prima de Lars Von Trier, é dessas.
      Tal é a grandeza desse filme, que não me contive e me propus escrever uma resenha mais apurada, mesmo já o tendo visto pela primeira vez, há mais de um ano, numa sala de cinema, e tendo deixado um pequeno comentário no blog. É válido dizer que a experiência que esse filme me proporcionou naquela época foi muito maior do que agora que o revi, graças ao momento específico que estava vivendo lá. Mas quando uma arte é boa, não importa quantas vezes você a enxerga, sempre consegue a ver.
     Como os outros filmes do diretor, este contém seus elementos característicos, como a divisão em capítulos, a câmera móvel e a valorização dos diálogos. Entretanto, aqui também vemos o culto à imagem e toda a beleza que esta pode oferecer. Logo no início, a sequência de imagens maravilhosas, semelhantes a pinturas surrealistas, em câmera lenta, demonstram a profundidade do longa.
      O primeiro capítulo tem como foco a personagem Justine (Kirsten Dunst) e sua festa de casamento, que acontece na casa da irmã, Claire, e de seu cunhado milionário, o anfitrião. De início, a noiva parece estar vivendo o que espera-se dela: felicidade. Contudo, logo no inicio da recepção, percebemos seu real estado, simplesmente alheia a tudo que ocorre a sua volta e sendo pressionada por todos para "ser feliz". No segundo capítulo, focado em Claire, sabemos que "Melancolia" é um misterioso planeta que passará próximo à Terra e corre o risco de encontrá-la. Com isso, Claire (brilhantemente interpretada por Charlotte Gainsbourg, também presente em "Anticristo", do mesmo diretor), luta contra o desespero, isolada com a irmã depressiva, o filho pequeno e o marido na gigante casa de campo, até o dia da chegada do planeta. Saber que o diretor se encontrava em uma fase da vida na qual teve depressão dá condições de entender melhor a situação melancólica e pessimista que vive Justine. É impossível alguém que já teve tais momentos não se reconhecer. Talvez a ideia não tivesse funcionado tal bem não fosse a incrível compatibilidade entre as duas atrizes principais, que conseguem construir uma relação irmã-irmã comovente e real.
     Frases como "A Terra é má, não precisamos lamentar por ela. Ninguém sentirá falta", conseguem expressar toda a carga de descrença, frustração e aniquilamento que nós, seres conscientes da nossa futura morte certa, em muitos momentos experimentamos. Os belos diálogos e imagens, juntamente com a trilha sonora de violino, formam a melhor personificação da melancolia que já vi no cinema. Mais um filme que ao invés de exigir uma mente aberta, exige um coração disposto a absorver as sensações que surgem quando nos conscientizamos da nossa pequenez e fragilidade como humanos.

Conceito: Excelente

Preciosa - Uma História de Esperança

     
Nome original: Precious
Direção: Lee Daniels
Elenco: Gabourey Sidibe, Mo'Nique Irnes Jackson, Paula Patton
Gênero: Drama
Ano: 2010


      Filme ganhador de 2 Oscar em 2010 - inclusive de melhor roteiro adaptado, do livro "Push" - é um drama que se destaca pelas excelentes atuações e uma carga de tragédia que supera a maioria do gênero.
      Preciosa é uma garota de 16 anos, negra, obesa e analfabeta que vive no bairro do Harlem em 1987, esperando seu segundo filho, quando entra em uma escola alternativa pra tentar encontrar esperança em meio a sua rotina de abusos e violência familiar. Logo nas primeiras cenas o cenário brutal na qual a personagem interpretada pela iniciante Gabourey Sidibe vive exposta: abuso sexual pelo pai, casa escura e desorganizada no bairro pobre de Nova Iorque, humilhações e violência por parte da mãe e a aparência da garota, totalmente sem luz, imersa na escuridão.
      Apesar de a personagem desde o início se mostrar extremamente apática e descrente, durante a história vemos algumas imagens que seriam provenientes da imaginação e dos sonhos da mesma, na qual ela é uma estrela adorada por vários e desejada, traçando uma história paralela àquela cruel realidade vivida. Quando a garota vai para a nova escola e encontra sua nova professora que passa a ser sua maior ajudante e fornecedora de esperança, abre-se uma pequena brecha para o que parecia ser uma situação sem solução. Numa turma com garotas com problemas semelhantes aos seus, Preciosa, aos trancos e barrancos, sobrevive.
      Quem espera um drama romântico e idealizado de "Preciosa", engana-se. O filme preza pelo realismo, bastante cruel nesse caso, e diferentemente de outras tramas do gênero, não tem o formato típico de trajetória do personagem: submundo, transformação, ascensão. Como geralmente ocorre na vida real, as mudanças vem aos poucos, com quedas durante o caminho, sendo uma delas a noticia trazida pela mãe de Preciosa enquanto se encontrava no abrigo, quase tirando novamente a firmeza e fé da garota.
      Há diversas cenas memoráveis durante o longa, e as melhores são as protagonizadas por Mo'nique, como a deplorável mãe, que prova que realmente mereceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante.
      A história, mais do que um drama de partir o coração, é um ensaio sobre esperança (como o próprio nome brasileiro explana), família, amor e onde encontrá-los nesse mundo.


Conceito: Muito Bom

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Europa



Nome original: Europa
Direção: Lars Von Trier
Elenco: Jean-Marc Barr, Barbara Sukowa

Gênero: Drama
Ano: 1991



      "Europa" faz parte de uma trilogia de filmes (os primeiros!) do diretor dinamarquês Lars Von Trier que não seguem a mesma história, mas sim utilizam da mesma técnica. Leopold Kessler é um jovem americano que consegue um trabalho na fictícia companhia ferroviária alemã Zentropa na Alemanha recém saída da guerra, no ano de 1945. Vindo de uma acolhedora América, com o espírito idealista, o personagem flutua no ambiente destruído e cruel, fruto do terrível conflito.
      A narração presente desde a primeira cena, como se fosse uma hipnose, nos prepara, com contagens regressivas, para os acontecimentos que se sucederão em breve. O primeiro plano, a vista dos trilhos a partir de um trem em movimento no prepara: "No 10 você estará em Europa".
      A imagem em preto e branco dá uma beleza requintada ao longa, e faz lembrar "A lista de Schindler", também pelo tema tratado. Entretanto, a inovação de Von Trier foi dar cor a alguns personagens e objetos em momentos importantes, para destacá-los, além do recorte e sobreposição de imagens em várias partes.
      Após Kessler começar a se envolver com Katharina Hartmann, filha do dono da companhia, os conflitos começam a surgir e até no meio de uma conspiração de resistência nazista ele se vê, provando que a Alemanha naquele tempo era pequena demais para pessoas que, como ele, não tinham uma posição no conflito que se negava a ser esquecido.
      Os diálogos são excelentes, carregados de um drama psicológico que, juntamente com a trilha sonora de suspense constante e o cenário claustrofóbico de um vagão, torna o filme perturbador e com traços noir. Como não se perturbar num lugar palco de tamanho derramamento de sangue e destruição? Alemanha novamente dando arrepios.
      Entretanto o roteiro soa um pouco amador quando explica demais a situação que está ocorrendo, não deixando nada implícito, como se o espectador não fosse capaz de notar na mesma hora, por exemplo, que o judeu que seria a testemunha numa cena tinha sido comprado.
      Outro ponto interessante, é que o roteiro se torna um bocado tarantiniano (no sentido de "nonsense") nas cenas finais, quando o personagem se vê numa confusão que o leva a surtar, suavizando o clima, mesmo com o caos ao redor.
      "Europa" é uma viagem que vale a pena.



Conceito: Excelente

sábado, 12 de janeiro de 2013

Os Idiotas



Nome original: Idioterne
Direção: Lars Von Trier
Elenco: Jens Albinus, Nikolaj Lie Kaas, Paprika Steen
Gênero: Drama
Ano: 1997

      Primeiro filme de Lars Von Trier feito de acordo com os princípios do Dogma 95 reforça minha condição de grande admirador do cineasta.
      O filme mostra um grupo que forma uma espécie de sociedade alternativa na qual o objetivo é se passar por afetados mentais, tirando sarro em diversas situações e causando constrangimento nas pessoas. No início do filme vemos os personagens interpretando doentes mentais simplesmente para tirar proveito ou para pregar uma peça em desconhecidos. Contudo, com o decorrer da história e a câmera (que devido à brilhante direção parece estar infiltrada entre o grupo) focando o grupo isolado em uma casa, conflitos mais densos começam a surgir, como por exemplo, a discussão sobre a falta de ética em enganar as pessoas e se realmente o objetivo da minissociedade estava sendo cumprido pelos seus integrantes.
      Dentre os personagens, há uma flutuante, chamada Karen, que se junta ao grupo por falta de opção, mas que está longe de querer ser uma rebelde anarquista. Sendo assim, é a mais intrigante e a que protagoniza a cena final, digna de aplausos.
      Além da originalidade do roteiro de Lars Von Trier e do uso Dogma 95 (que faz com que o filme se pareça com um vídeo caseiro), é inacreditável que aqueles são atores fazendo papéis. O entrosamento e atuação de todos beiram a perfeição.
      “Os idiotas”, ao contrário do que parece no início, é um filme que, como todos do diretor, faz pensar, e de um jeito tão instigante e inovador que suas duas horas de duração passam num piscar de olhos.

Conceito: Excelente